domingo, 27 de março de 2011

Passado...presente

Dirigiu-se até a cozinha, na janela alguma iluminação ultrapassava a vidraça, ainda estava  lá  a violeta, presente desses, que ela não teve como não aceitar, o dono da revistaria lhe ofereceu, alguém tinha esquecido ali, então meia a contra gosto aceitou, violetas lilás... mas eram tantas flores, que saiam daquele vaso. Eram grandes as folhas, fora do padrão normal. Ela esboçou um sorriso falso, para não ser desagradável.
Muito embora tenha ficado feliz, por ver uma flor de aspecto tão belo, diferente como ela. Assim.... foi parar esse presente na janela da cozinha, ali ela tomaria sol, estaria perto da torneira de pingos internitentes, mais perto para ela molhar, não morreria  de sêde!
Acendeu o fogão, a chaleira com tão pouca água esquentava, prepararou o café, a tintura de sempre, enquanto isso, a lilás, assim ela chamara a violeta, receberia água...sobrevida, pensava  ela : como eu!
Chiou rápido a chaleira,buscou a chicara, o pó de café, açucar, permaneceu em pé , enquanto seus lábios, na borda da chicara, experimentavam o calor. Bebeu lentamente, e em segundos como sempre aquele voar inconciente ao passado. Ah, como era bom ouvir o riso dos amigos, do seu amor, no interior de sua casa, que maneira linda de acordar, tomar seu banho, olhando seu corpo curvilíneo, seus cabelos ruivos, semi longos, seus olhos verdes brilhantes...a juventude tem esse dom. Vestido floral, sapatos brancos de saltos altos. Com as mãos,modelava os cabelos, a boca carnuda preenchida com aquele baton vermelho. Adorava olhar-se, enquanto lá embaixo, todos aguardavam por ela, linda inteligente.
Rindo preparou um belo sorriso, abriu a porta de seu quarto, desceu as escadas, que a levariam a sala, batia forte o salto, assim todos ergueriam seus olhos, para ver a bela Irene.
Caterine, mais amiga que sua empregada, já se alvoroçara pela sala, conferindo, se as flores estavam colocadas da maneira que Irene gostava. Fora Caterine, mais que uma irmã....
A chicara foi ao chao, seu pensamento lhe trouxe a realidade, e como acontecia em momentos assim,  um grito de dor... saiu correndo pela casa, precisava chegar na sala, na mesa onde outrora vasos com suas flores preferidas, enfeitavam , era ali, naquela lata velha de biscoitos, que escondia seu segredo, rasgou depressa as embalagens,colocou todos os remedios, na palma daquela mão,velha e magra, comia um a um, como se fosse estancar a dor....um gosto amargo, fez que com que escorresse de seus lábios, sua saliva. Em seus surtos, Irene balbuciava,chorava, ria , dor maldita, pensava, acaba com este corpo velho. inútil.
 Minutos que pareciam intermináveis. A substância começara a agir, uma leveza, tomava conta dela agora, seus fantasmas do passado seriam aprisionados, estaria livre...enfim. A doce letargia, na retina a unica imagem.... seu vestido floral, a escadaria, seu grande amor.
Dormiu Irene....dormiu para sempre!!!

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