Da província distante e fria, a mulher olha de sua janela, onde antes corria o lago azul,
hoje é só neve branca.
Branca, quase queima a retina ...
Branca como a fumaça que saí pela chaminé.
Fogão arde em brasa viva, esquentando o café.
Olha rápido por toda extensão, dirigi-se à cozinha com jeito apressado, serve na caneca sem cor ,
O negro café, quente, acolhedor!
Bem ali, quase perto da janela, a banheira de pés torneados.
Branca...a banheira branca, tudo num raio imenso é branco, os pinheiros parecem desenhos... brancos.
A lareira acessa.
Vermelha...Crepitando.
A chaleira em suas mãos, ela abre o casaco que cobre o corpo nú.
Não há frio ali dentro, derrama a fervente água e delicadamente, primeiro um pé, depois o outro,
E então mergulha o corpo por inteiro, seus cabelos fazem desenhos sob água.
A mulher agora canta, suas musicas antigas, doces lembranças.
Suas mãos leves ensaboam seu corpo...
Abre o frasco de seu perfume, e o derruba por inteiro... parece um ato de ira!
Aconchega a cabeça, na parte retangular da banheira, estica a mão, pega o livro e começa a ler.
Devora...
Feito felino,
Devora...
Feito inverno queimando as folhas,
Devora...
Feito caçador, no abate da ave inocente que sobrevoa o céu.
Devora....
A ultima pagina.
Mergulha suspendendo a respiração.
Lá fora, tudo é branco, ainda é branco!