quinta-feira, 5 de março de 2015

O Vidraceiro

Estava ela ali novamente, colocando vidros nas janelas, de mais uma casa,
adorava olhar a vida, o movimento
enquanto enquadrava os vidros nas janelas, de mais uma casa.
Olhava e vibrava disfarçadamente.
Lembrava entre u movimento e outro, o trabalho de seu pai. E, pensava, como conseguia, o velho pai
Trabalhar emoldurando imagens, coisas mortas pensava ele, que prazer seu pai tinha em celar,
imagens sem movimento?
Ria, enquanto assistia, o que dentro da casa acontecia, o riso das crianças, a corrida dos cachorros atrás da bola, a televisão ligada num desenho engraçado.
A dona da casa, descuidada  vez que outra, enfiava a mão pelo decote
ajeitando o seio... ele baixava os olhos...às vezes... às vezes!
Comunidade pequena, tanto trabalho, sabia tudo de todos
E, todos nada sabiam dele.
Contava as horas, tempo, carregava seus relógios e contava... contava os minutos, segundos, para
que um novo vidro quebrasse,
Desejava que uma pedra  perdida estilhasse em partículas o vidro de qualquer casa.
Ele recuperaria, enquadraria o vidro tão perfeitamente, demoraria é claro.
Era seu deleite!
Em sua casa à noite, o material ficava espalhado pela sala, sala branco de gesso branco, misturava-se com o vermelho do seu sangue pelo chão, descuidado pisava com seus pés descalsos, nos cacos de vidros, que cortava, retalhava... era sua obra de arte.
Que composição!
O artista era ele... o vidraceiro, não prendia, somente dividia a vida das pessoas,
mantinha o movimento.
Tomava vida!
Levava tudo na sua retina, com o tempo do movimento nas suas costas assim adormecia...
Sentado na poltrona velha, fechava os olhos e  relembrava a vida por trás dos vidros
 das janelas... a vida dos outros!


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